sábado, 6 de fevereiro de 2010

Crônica para um amigo Paulista.

Entre a serra e o mar, entre a cidade e o campo existe um mundo distante que anos atrás não representava muito, pois todos nós tínhamos um tio, avô que morava na fazenda ou no sítio.
E a gente passava lá as férias do meio de ano, ajudava a tratar das galinhas, tomava leite da vaca quentinho, pescava no lago ou riacho que passava dentro ou perto da propriedade, pegava fruta no pé e até cortar abóbora para tratar dos porcos. Caçava passarinho com alçapão e como eu, que já corri atrás de macaco no pasto lá em Formiga – MG na fazenda do tio Antídio.
E nas férias de Janeiro, a gente ia pra praia, como sempre a nossa família conhecia uma outra que tinha uma casa ou apartamento não importava onde Angra, Rio, Santos ou outra cidade qualquer o mais importante era passar uma semana na praia e voltar às aulas com o corpo queimado do sol. Passar uma semana na praia era tudo de bom e ruim, dorme mal, come mal, casa sem ar condicionado, um banheiro só pra todo mundo, porque férias ainda na praia é ter no mínimo dez pessoas entre parentes e amigos dentro da casa. De bom é conhecer gente nova a cada ano, ter um namorinho rápido sem compromisso, tomar muito sorvete e comer muito macarrão.
Mas são outros tempos e a distância hoje não é das estradas e sim a do tempo, nós não temos tempo nem para nós ainda mais para os filhos, o campo já não existe mais, as crianças não conhecem galinhas, cavalos, canários da terra e tem pai que também não conhece canto de sabiá laranjeira ou tiziu, pior é ter criança e pais que nunca andou descalço na terra.
Mas a nova doença que está por aí se chama stress e ta consumindo a cada dia à alma do homem que acorda e dorme trabalhando e às vezes nem come, e a tensão é extensiva à mulher e aos filhos, o porquê dos casamentos acabarem tão rápidos sem motivos aparentemente graves, porque na realidade não se vive alegria e nem se compartilha coisas simples como tomar um banho de rio que toda pessoa do campo faz ou tomar água de mina, passar uma semana num hotel fazenda e comer comida simples no fogão a lenha, fazer trilhas e respirar ar puro de serra ou mar.

-Este assunto da pauta de hoje é porque esta semana num momento de stress nosso no trabalho um amigo nosso foi convidado por nós para comer fora do ambiente de trabalho num restaurante com fogão a lenha, polenta italiana e vinho da casa. Após o almoço fizemos uma surpresa o levamos para conhecer Falcão ali na serra, cidadezinha onde galinha é criada solta e tem a cachoeira apelidada por nós de sete quedas logo ali depois do pontilhão do trem. Ficamos lá algum tempo olhando a cachoeira e conversando num sol quente que no fundo não nos incomodou, voltamos à vila e paramos no bar do Giovane onde a gente sempre pára pra tomar um café com bolo ou comer um pedaço de queijo minas ou pastel quentinho, fizemos tudo e até jogamos uma partida de bilhar onde eu saí vencedor por pura sorte quando nosso amigo errou de bola e claro deve ser devido ao stress do dia a dia certamente estava tremendo. Não posso garantir a melhora imediata do nosso amigo, mas que ele desceu mais leve da serra e conscientizado que precisa se libertar mais da vida dura, escravizada que os tempos modernos nos impõem.

- Caro amigo Etiene, eu e o Luiz Mandi desejamos que em pouco tempo você arrume um tempo para andar descalço de mãos dadas com a patroa por uma trilha qualquer e filho no colo respirando ar puro.


Janeiro/2010.

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