terça-feira, 19 de setembro de 2023

Carta a uma amiga distante



Espero encontrar você e sua família feliz e com saúde.

Há muito nós não nos falamos, me deu saudades de vocês, penso que uma carta meio à moda antiga, eu possa expressar todo o que estou sentindo agora, nesta noite fria de inverno.

Eu poderia telefonar mandar email, mas como estou na fazenda e daqui saio pouco, pois, tenho meu envolvimento com as plantações, à lida com o gado, os empregados e suas famílias, a minha família e por isso me sobram pouco tempo.

Nas minhas noites aqui na fazenda procuro dormir cedo, assisto um pouco de televisão ou ouço meus discos em vinil aquelas músicas do nosso tempo que tocavam nos bares e nas domingueiras no clube.

As crianças vão bem e adoram a fazenda, mas pelo menos duas vezes ao ano passamos alguns dias na praia, ensinei a eles o gosto pela areia e a água salgada que recupera o nosso cansaço e até hoje nos lembramos da praia de Botafogo, ali perto da casa da sua mãe.

Penso que em pouco tempo vou perder do alcance das minhas mãos a minha pequena Sofia, ela já está com dezesseis anos e quer estudar Pediatria em São Paulo, meu coração já está partido só de pensar. Meu coração já se partiu algumas vezes nos últimos vinte anos, você sabe.

Sinto saudades de alguns amigos que não vejo algum tempo e até anos. Seria bom saber de cada um de vocês e que nossas esposas e maridos fossem amigos e nossos filhos também, como nós éramos na adolescência.

Mande notícias de você, do João seu marido e o Artur, aliás, ainda guardo a foto de oito anos e que festa aquela na casa da sua mãe, eu penso que ela gosta mais de mim hoje que antes, não sei se ela te disse, mas meses atrás mexendo nas fotos antigas encontrei um cartão com o telefone da sua mãe e dias depois na cidade telefonei, conversamos e de alegria ela até se emocionou.

Vou ficando por aqui, gostaria de convidá-los para passarem um final de semana aqui na fazenda.

A Marina manda um beijo pra vocês e receba os carinhos do seu amigo,

quinta-feira, 7 de setembro de 2023

Um sonho de morte


 

   A imagem com que me deparei ao abrir a porta da casa que ia dar na edícula nos fundos do quintal foi arrepiante, um corpo boiando sobre as águas da pequena piscina. Ao me deparar com a cena meu corpo quis voltar, mas a curiosidade foi mais forte, eu tinha que ver o rosto do homem que boiava. Não havia sangue misturado com a água nem pelo chão ao redor da piscina, o corpo estava encostado na borda da piscina entre a parede e a escada que brilhava exibindo seu inox, peguei uma vassoura que estava perto da porta e por nojo ou medo não coloquei a mão no corpo e utilizei a vassoura para virar o corpo e levei um grande susto, o rosto era o meu e então me lembrei de que eu morri de frio ao nadar na piscina cheia de cubos de gelo.

   Dei as costas e saí correndo, fechei a porta da casa, meu filho de cinco anos me apontava o teto onde meu corpo estava pendurado, um alarme dispara na minha garagem, pego uma arma sobre a estante e saio na varanda de arma em punho, minha mulher implorando para que eu voltasse, no escuro vejo dois homens encapuzados, ladrões certamente, caminho rápido e quando chego perto do carro grito com a arma apontada e já não são mais  bandidos e sim dois policiais que rindo de mim dizem para que eu atire neles, apontei a arma e puxei o gatilho algumas vezes, mas todos os disparos falharam. Os policiais ainda rindo me deram ordem de prisão e passei de vítima a bandido, corri pela rua por muito tempo, cheguei numa ponte que dividia a cidade ao meio, e eu vendo os veículos virem na minha direção pulei no rio mesmo sem saber nadar.

   E no fundo do rio na tentativa de voltar à superfície vi um corpo que passava por mim, a água turva não me deixava ver a fisionomia do corpo, nadei um pouco para mais perto e puxei-o pelos pés e novamente era meu corpo, eu não estava nele. Senti um terror enorme e comecei a gritar, de repente uma luz forte e clara entrou pela minha retina me deixando cego e uma voz ao fundo que pedia calma, quando meus olhos se acostumaram com a luminosidade vejo minha mulher assustada, era só mais um pesadelo.