quarta-feira, 20 de dezembro de 2017

Solitária






Ela acordava toda manhã e agia de forma igual, colocava a água para ferver e colocava a mesa do café, xícara no lugar, o adoçante, a manteiga, o presunto e o queijo. Passado o café sentava e se servia, terminado de tomar o café ia até o a pia do banheiro e escova os dentes em seguida trancava a porta e seguia pela calçada. Ao chegar à repartição se ajeitava na sua velha cadeira e as oito em ponto chamavam a primeira senha. Ela era solitária de nascença.

segunda-feira, 13 de novembro de 2017

Abolição



Abolição


Quando foi capturado na África já era um escravo livre abolido pelo seu dono que no leito de morte assinou sua carta de alforria. Mas mesmo assim veio escravizado para o Brasil e por aqui sofreu por anos. Na véspera da abolição da escravatura no Brasil, seu dono o chamou para receber sua carta de alforria, e ao receber a carta ele pediu autorização para falar, o que foi permitido, ele pedira que lhe fosse devolvido seu livro “Os miseráveis” uma publicação original na língua francesa.

sexta-feira, 6 de outubro de 2017



A pequena Glória - (Este texto foi classificado e está na revista MarinaTambalo do mês de Setembro)

Edmilson Naves de Oliveira


Eu acordo sempre cedo perto das seis e quinze da manhã. Eu mesmo arrumo a mesa, coloco a água do café e o leite para esquentar, faca e colher, manteiga e pão. É um ritual antes de sair para o escritório todos os dias. Pego minha pasta abro a porta do apartamento e já dou de cara com a dona Lúcia uma senhora de quase oitenta anos varrendo o corredor. Ela faz isso desde quando me mudei para cá há mais de quinze anos. Nunca desço ou subo de elevador até o terceiro andar são seis vãos de escada que faz bem a saúde. Chego ao hall que está vazio. Já não temos porteiro está muito caro, são somente doze apartamentos e todos os moradores são idosos e só temos crianças ou netos nos fins de semana e alguns gostam de receber as cartas e distribuir, se oferecem para pagar as contas é uma total harmonia aqui. Daqui para o meu trabalho é trinta minutos a pé o que faço com prazer e vou descendo já com a chave do portão na mão e ao abrir o portão me deparo com uma cena chocante, mas corriqueira que é gente deitada ao pé do portão. Só que nesta manhã meu coração doeu e até palpitou forte, estava ali deitada sobre um papelão com uma coberta fina e suja uma menina que aparentava uns dez anos no máximo. Olhei ao redor e gente passando pela calçada e o mais triste que na sua pressa as pessoas viram o rosto para o lado oposto, para talvez não sentir a dor que eu senti quando me deparei com a cena. E o que fazer naquela situação passar a chave no portão e sair caminhando na direção oposta. Olhei para os lados buscando a família ou a mãe daquela menina e ninguém por perto. E num ato impensável resolvi acordar a menina, ela despertou assustada eu do lado de dentro do portão e ela do lado de fora, perguntei se ela queria café, ela meio séria e desconfiada balançou a cabeça que sim, pedi para ela esperar, entrei no hall e peguei o elevador eu tinha pressa ela podia pegar suas bugigangas e ir embora sem comer, quando desci com o copo de café com leite e um prato com pão e biscoitos ela estava de pé em frente ao portão. Quando passei a chave no portão e olhei nos olhos dela ela sorriu, entrou sentou na escada, devorou o pão e sem olhar nos meus olhos falou baixinho: - meu nome é Glória! Eu peguei o prato e disse a ela que iria buscar mais biscoitos e subi de elevador pela segunda vez em vinte minutos, entrei em casa e fui direto ao telefone e liguei para minha filha e pedi a ela que viesse rápido, desci com os biscoitos e em menos de meia hora minha filha chegou, conversamos com a pequena Glória por um bom tempo, de onde vinha se tinha casa, mãe e pai, quanto tempo estava nas ruas e etc. E hoje depois de quinze anos ao abrir o portão para dar minha caminhada vejo a imagem daquela menina deitada no meu portão. O celular toca e ao atender é Glória me ligando de São Paulo para dar bom dia, ela me liga todos os dias pontualmente às sete horas, pois foi à hora que a encontrei no portão, me deseja um bom dia e envia um beijo. Diz que está saindo para a faculdade e que no fim de semana virá me visitar e diz: - Te amo, vovô!

segunda-feira, 4 de setembro de 2017

Manifesto a minha prosa



Eu queria falar na minha prosa
Das terras, das águas e das montanhas
Das lavouras, dos animais e mais...
Das coisas que formam o meu povo
Mas eu habito no confuso
E mal cheiroso mundo urbano
Onde pessoas não guardam tradições
E as últimas gerações não trazem
...nada dentro de si.
Para estes nem a instrução básica
Da interpretação da escrita
Dos nossos escritores e poetas
Obtiveram pela falta do homem
E outros por mera opção do não
O não que bloqueia a contemplação
Da luz das estrelas num céu azul
Do ouvir o canto dos pássaros
Do observar o verde da relva
Do cheiro das frutas
Da beleza das cores
...tão pouco o amor
Como jamais verão um campo
De Alfazema florida exalando
Seu perfume pelo ar
Mas sentirão o cheiro da fumaça
Que corroem seus pulmões
Do ruído dos motores
Que diminuem sua audição
Como a cor cinza do concreto pichado
Que diferencia mundos sem compaixão
Quem me dera ter a inspiração
De mundos atracados
Do outro lado do Atlântico

Dedicado a Manuel Maria – Galícia – Espanha.

sexta-feira, 4 de agosto de 2017

Teatro



Teatro
Poesia de Manuel Maria – Espanha – Galícia
Tradução: Edmilson Naves

Tenho um teatro jeitoso
Mais jeitoso não tem
Tenho um teatro pequeno
Agasalho do meu pai
É um teatro singelo
Teatrinho muito bom
E tão prático que cabe
Em qualquer lugar pequeno
Tenho bonecas de goma
De papelão e de papel
Chamam-se Barriga verde,
Bululú e tia Isabel
O meu teatro é um mundo
Os personagens que invento
São cheios de vida, fantasia
E dou-lhes conhecimentos
Eu represento comédias
Dramas e dramalhões
Com meus bonecos que riem
Com meus bonecos que choram

quarta-feira, 5 de julho de 2017

Nas montanhas de Itatiaia





A montanha está clara
Nesta manhã de céu azul
Guignard adoraria ver a paisagem
Verde e límpida como vejo agora
Das pequenas nascentes
De águas frias que alimentam
Esquilos, lobos guará
Que se fartam de vida
Posso sentir o cheiro do mato
Onde o sol da manhã
Faz evaporar o orvalho
Que a madrugada trouxe
O calor da tua pele nua
Sob os edredons pesados
Que nos aqueceram na madrugada
E você me olha de lado
Respiras fundo e me pergunta.
- Já temos café?

terça-feira, 6 de junho de 2017

Sentimientos


Sentimientos

Cuando nuestro corazón

Cierra como ventanas y puertas

De casas de montaña

Tenemos que esperar

El pase la tormenta de polvo

Para abrir de nuevo

Llevar el olor de la tierra

Y el aroma de la flor que se abre

Al romper el día

quinta-feira, 27 de abril de 2017

Foto antiga


Foto antiga



A foto em tom avermelhada

Mostra você ontem

No rosto de hoje

A única marca em tua face

São os traços do seu sorriso

Que tanto tempo depois

Ainda encanta

Minha retina

sábado, 8 de abril de 2017

Imponente Luar



Imponente luar

A noite se mostra

Imponente com seu luar

...conquistador.

Edifícios, apartamentos

Flats, terraços

Se rendem ao brilho da noite

Um beijo, um abraço

Um “Eu te amo”

Torna-se sensível

Sob o luar.

terça-feira, 21 de março de 2017

Eu, você e o mar.






O mar

Sempre vai estar

Como um pano de fundo

Na foto exposta

Onde nós estamos

De mãos dadas

Você com a cabeça

Debruçada sobre meu ombro

Sorri discretamente

Sabe que no meu peito

O coração bate por você

segunda-feira, 20 de fevereiro de 2017

Por aí



Por aí

O mar

O navio

A encosta

A rocha

A neve

Seu cachecol

A Rússia

A vodka

Meu Deus

Viajei

sábado, 21 de janeiro de 2017

O furto



A pequena cidade conhecia a alegria
De Maria Isabel menina prendada
Filha única do farmacêutico Jonas
Passou toda a adolescência esperando
Um amor, puro, verdadeiro e duradouro.
Uma grande festa para a sociedade local
Foi dada para comemorar seus dezoito anos
E nesta festa compareceram
Vários rapazes amigos de infância
E que sempre cortejaram a menina
Um dos amigos trouxe um primo o Aldo
Vindo da capital estudante de medicina
Chegou à cidade um dia antes da festa
Passaria três semanas de férias
Maria Isabel dançou com todos os amigos
E por último o novo amigo visitante
Em três minutos de dança conversaram
E um encontro na sorveteria da praça
Foi marcado para domingo à tarde
A espera foi longa por toda a manhã
O encontro tímido num sorriso
A conversa girou na curiosidade dos dois
Sobre a vida e os gostos de cada um
Ele falou um pouco mais que ela
Viver numa pequena cidade como aquela
Onde poucas coisas se passam despercebidas
A novidade agora era a filha do farmacêutico
Que estava de namoro com o rapaz da cidade
Com um futuro promissor de médico
Então veio o segundo dia e mais conversas
Por longas tardes na sorveteria ou no portão
E passeios de bicicletas e por fim o beijo
Que selou o namoro e aprovação da família
Com um jantar na casa da namorada
Onde questionaram a vida do estudante
Durante três semanas correu a maravilhas
E a saudade começou antecipadamente
A bater no coração de Maria Isabel
E assim Aldo partiu, acabaram as férias.
E trocas de cartas e telefonemas semanais
Promessa de visita no próximo feriado
O que não aconteceu e cessaram as cartas
E os telefonemas foram diminuindo
E Maria Isabel triste pelos cantos
Nas noites de insônias passava chorando
Preocupava a família pelos acontecimentos
Os dias passavam e a tristeza a abatia
Os amigos vinham na tentativa de animar
Mas nada afastava a depressão da menina
E numa manhã Maria Isabel chamou o pai
E pediu para que a acompanhasse à delegacia
Onde o delegado Matias amigo de seu pai
Passava o dia, semanas e meses a ler jornal.
O pai não entendeu nada sobre o pedido
Mas acompanhando a filha a passos largos
Entrando no escritório foram atendidos
Pelo delegado quando Maria Isabel anunciou
Que queria fazer uma denúncia
O policial mandou chamar o escrivão
E perguntada qual seria a denúncia
“Que roubaram o meu coração”.
E ela conhecia o culpado pelo furto
O pai e o amigo delegado assustado
Por segundos não sabiam que ação tomar
Trazidos a realidade pela voz da menina
Que insistia em fazer a denúncia
Foram minutos de debates sobre o tema
Para o delegado era uma denúncia descabida
Era melhor que esquecesse o rapaz de vez
Mas Maria Isabel insistia em registrar
“O roubo do seu coração”.
Assim foi feito e levado o caso ao juiz
Da cidade vizinha que marcou a audiência
No dia e hora lá estava Maria Isabel
O juiz após ler a denúncia, perguntou.
O que a menina esperava com aquilo
Ela disse que queria que ele viesse depor
Que passasse vergonha perante os todos
E que pedisse desculpa em público a ela
Que isto lhe servisse de lição por enganar
Uma pessoa de coração puro e sincero
O rapaz foi chamado para depoimento
Com ele veio os pais e um advogado
O caso se arrastou por quase seis meses
Tomou proporções extras municipais
Apareceram alguns jornalistas na cidade
Maria Isabel deu algumas entrevistas
E então foi marcado o julgamento
E depois de duas horas de debate
O resultado foi lido pelo juiz da cidade
Aldo foi condenado a fazer uma nota
Onde pedia desculpas em público
E publicada em todos os jornais da região
E pessoalmente teria que ir casa da família
E pediria desculpas a toda a família
O caso ficou conhecido como: O furto do coração.