domingo, 11 de dezembro de 2016

O Tejo


O Tejo


[...] O Tejo tem grandes navios.
E navega nele ainda
Para aqueles que vêem em tudo que lá não está,
As memórias das naus.
O Tejo desce de Espanha
E o Tejo entra no mar em Portugal. [...]

(O Tejo é mais belo de Alberto Caeiro – Poeta Português)

Eu pensava no Tejo já nos anos 80 quando iniciei minhas leituras sobre a poesia portuguesa. Em qualquer época a literatura cita o Tejo como referência da história de Portugal. Depois de algum tempo já familiarizado com o rio mar como o chamam os portugueses, passei a desejar conhecê-lo.

Quando cheguei a Lisboa pela primeira vez de tão admirado com a cidade, não me lembrei do Tejo nos primeiros momentos, andei por outras bandas naquela tarde, mas à noite antes de sair para jantar com meus amigos, pensei:

- Caramba, eu tenho que ver o Tejo! – me lembrando do rio.

- Para que lado fica o Tejo? – perguntei ao recepcionista do hotel.

- Mas pá está aqui atrás, dá para ir caminhando. – indicando o lado com o braço.

Não perdi tempo, avisei ao pessoal que não iria jantar com eles, que eu iria ver o Tejo, ninguém entendeu nada e reclamaram a minha presença, mas por fim aceitaram.
Saí andando e após alguns minutos senti o cheiro d’água no ar, o relógio marcava vinte horas e quarenta minutos e ao dobrar a esquina avistei as águas do Tejo.
Aproximei-me devagar das grades que margeiam o rio pelo centro da cidade. Ao lado da ponte havia uma escada, que descendo levava a um pequeno píer para pequenas embarcações, não resisti, desci e toquei com as mãos as suas águas. Muitos não sentem a grandeza do Tejo, mas não é um rio comum como todos os rios, ele tem um passado forte, quantas naus saíram da sua baía em direção ao desconhecido, América e África. Quantas riquezas “furtadas” desembarcaram nas suas margens e foram distribuídas em terras lusitanas e por toda a Europa.
Subi as escadas e me dirigi a uma lanchonete próxima, sentei bem perto da margem e fiquei apreciando suas águas prateadas pela luz da lua. Naquela noite conversei com o rio por um bom tempo.
O Tejo continua lá, imponente e orgulhoso pela sua história!

segunda-feira, 7 de novembro de 2016

Monarquia



Monarquia

Sobre as muralhas

...do castelo.

Grandes portais

...se abrem.

É noite de festa

A monarquia impera

Entre taças de vinhos

E javalis assados

sexta-feira, 21 de outubro de 2016

Sonho com Juan Gelman


Sonho com Juan Gelman



A rua era sinistra, escura de pouca luz, não passava de um beco. De metros em metros uma mulher encostada em uma escada diante de uma porta de um tiliguito (bar) barato com odor de perfume forte e de grossos cassacos de pele.
Passei apressado, já era tarde e o bar o qual havia me indicado não tardaria a fechar, era um ponto de encontro de velhos artistas, jornalistas e boêmios da velha Buenos Aires. No meu caminhar ia montando um script do que falar e perguntar ao encontrá-lo, talvez um: - boa noite! Ou - posso me sentar? E se ele me respondesse um não, e se estivesse acompanhado de uma mulher que sorria já levada pelas duas garrafas de vinho vazias sobre a mesa. Podia também ter mais duas companhias bêbadas e todos em altas gargalhadas, às vezes Vinícius falava e Neruda sussurrava certamente não me atenderia ou sim, me diria puxa uma cadeira e senta, fala o que tem que falar, cante o que tem pra mostrar, e eu só estaria ali pra perguntar.
Passei por bêbados que cantarolavam tangos de Gardel e outro grupo explanavam discursos febris sobre os governantes e os mandava a merda, e também os militares inúteis nas suas casas matas. E quando fiquei de encontro com a pequena praça pude ver do outro lado o restaurante com suas luzes baixas e fui chegando lentamente, entrei no hall e o maitre veio me receber e eu disse que uma pessoa me espera, o homem me indicou a mesa de fundo, então pude ver uma pessoa na penumbra rodeada pela fumaça e uma taça de vinho.
Chegando perto da mesa ele me olhou com um sorriso fechado por trás do seu vasto bigode me indicando a cadeira para sentar, minhas mãos frias e tremulas tocou a dele e em seguida pegou a caneta e voltou a escrever sobre o guardanapo e falou baixinho que eu aguardasse, pois estava terminando um poema.
De repente abro os olhos levados pela claridade do nascer da manhã que ultrapassava a cortina do meu pequeno quarto, e caí na real que foi um sonho tudo aquilo que vivi em algumas horas ou numa fração de segundo. Mas uma coisa ainda me lembrava, da última frase do poema que dizia “la página que no escribiré recuerda mi muerte”.

sábado, 1 de outubro de 2016

Dura Lembrança





O espinho da rosa vermelha

Espeta a palma da mão

Quando se colhe suas pétalas

E misturam ao sangue + que positivo

Ardente do meu corpo

Acúmulos de jornadas

Constantes dos banquetes

Que passamos noites adentro

Do nosso aposento que

Chamamos de ninho

Como nossos beijos

Lábios vermelhos de paixão

Tanto o espinho como a rosa

Símbolo do amor e do ódio

Que vive entre nós

E o tempo este que gira

E converte partes mortas

Em cinzas do passado

E choram lágrimas escuras

E faz lembrança um presente

Que um dia foi um rosa

sexta-feira, 2 de setembro de 2016

O Portal


Meu mundo é uma ilha

Rodeado de águas escuras

De um céu azul turquesa

Um monte de terra seca

Mas lá tem também

Rio de águas claras

Flores de cores diversas

Tem chuva e trovoadas

Estações, Inverno, Verão

Lá tem seus olhos verdes

Pelos quais meu coração bate

É só atravessar o Portal

terça-feira, 26 de julho de 2016

Tu eras




Ainda ontem

Quando tu eras

Uma flor a florir

Brincava com o tempo

Que passava em vão

Mesmo que o futuro existisse, não haveria

De regá-lo era só o futuro

Calçadas das ruas

Eram passarelas de sorrisos

Nas mãos entrelaçadas

Lábios saboreavam beijos

Que de tão longos

Alimentou de lembrança no futuro

Flores brotaram em outros jardins

E o futuro voltou, ou foi o tempo

Que não passou

sábado, 25 de junho de 2016

Tornar



Tornar

Intenso

É o momento

Que se faz presente

O que passou

Está ali, está aqui

Está na retina

Na palma da mão

No degrau da escada

Intenso

É refazer o caminho

Tornar

Do olhar trocado

Mais que voar

Voar pra lá, voar pra cá

Voar de mãos entrelaçadas

Voar no sorriso da foto.

sábado, 4 de junho de 2016

Varanda



Viver é ter cadeira

Na varanda

Um jarro de flor

Uma grama verde

Pra pisar

Uma janela aberta

Na direção do sol

...nascente

E uma mão para segurar

sexta-feira, 6 de maio de 2016

Jeito de amar



Aqui num flat
Jogado ao léu
Cama espaçosa
E o tempo que logo muda
Vem chuva, granizo.
Esse calor que abrasa
Faz-nos transpirar
Fruto da paixão
Nosso jeito de amar
Quantas luas
Teus lábios me inspirarão
Hoje tudo amanhã lembrança
Desejo um regalo de palavras
Meu caminho está cheio
De curvas escuras e este poema
Certo que foi composto
No breu de um quarto na solidão
E a mão que guiou a caneta
Foi levada pelo olhar
De uma mulher distante

domingo, 10 de abril de 2016

Só seu



Hoje pensei em escrever um poema
Dedicado somente a você
Para que possas ler e reler
Guarde-o numa caixa de joias
Numa gaveta de roupas íntimas
Ou, em uma mala de viagem guardada.
No fundo de um quarto de bagunça
Eu vou querer dizer neste poema
Que de todas as minhas loucuras
Tu és meu distúrbio mental
Que não o mostre a ninguém
É segredo, é uma coisa só nossa.
Não o decore, senão perderá a graça.
O objetivo será sempre de surpreendê-la
Leia-o sempre numa manhã chuvosa
Leia-o sempre numa tarde tórrida
Ou, numa noite solitariamente abrasadora.
Mas no fundo o poema é só meu, pra você.

sábado, 19 de março de 2016

Imaginário



Caíste na armadilha
O ponto de interrogação
Brotou no céu do seu interior
Imaginar, criar o imaginário.
Perder o sono na calada da noite
E não encontrar a ponta do cordão
Do novelo com a raiva que restou
E a tal prisão que martela o pensamento
Como a dor solene da paixão
Ou, como a armadilha que fez
Virar amor

terça-feira, 23 de fevereiro de 2016

Inverno



No cotidiano
De um dia frio
E de inverno chuvoso
Lembranças que solapam
...a mente.
O sol que resiste
Em brilhar atrás
De nuvens cinzentas
O amor é tão amarelo
No dia a dia
Mas é no calor
Dos lençóis
Que o amor é azul
A tua pele clara
E rosado o seu vulcão.

sexta-feira, 8 de janeiro de 2016

Amai



Coisas que nos fazem bem
O amor, por exemplo,
Sendo o mais profundo
E que nos alcance
Que traga paixão
Que venha com alegria
Como uma melodia
Que embala o coração
Como o sono do corpo
Que se fez fadiga
Na exaustão do amor
Numa tarde de Outono
No silencio da civilização.