quinta-feira, 23 de outubro de 2008

O homem que vendia coroas.

Semana 43-08.

O homem que vendia coroas.

O Eduardo já estava à frente da floricultura a vinte e dois anos, seu pai tinha começado o negócio e naquela época o prédio estava desvalorizado por ser vizinho de muro do cemitério.
Com o tempo outras casas foram surgindo em volta, novos comércios, como padarias, bares, agência de carros e o cemitério também cresceu.
O Eduardo sabia que era um bom negócio, dois enterros em média por dia, mais as pessoas que visitavam os túmulos diariamente. Também tinha sua mulher Dilma que se especializara em enfeites para festas, em dois anos ela havia feito uma carteira de clientes que ia de grandes empresas, hotéis e preparação de salão para casamentos e festas de 15 anos.

A loja tinha quatro empregados todos formados e especializados em compor arranjos, todos formados por ele e Dilma, arranjos que seu pai os montava tão bem.
Quando o cliente chegava à loja pedindo detalhes das flores e arranjos em geral, ele atendia com maior presteza respeitando o momento difícil que os familiares estavam passando naquele momento. Perguntas de praxe como a que horas será o velório, a família é da cidade mesmo.
Durante o velório a chegada dos arranjos e coroa era muito especial, porque escolhido o lugar em um canto ventilado e fresco, para que as flores não murchassem. Após o enterro, o lugar ficava deserto somente com umas pessoas fazendo visitas ou limpando os túmulos.
Então, Eduardo saia da loja e caminhando em direção ao cemitério, ia de encontro ao túmulo que menos de duas horas havia sido um palco de desolação total, com parentes em choro, filhos ou amigos em prantos.
O sol já estava a baixar e próximo das dezoito horas, quando Eduardo parava em frente ao túmulo e observava o que havia por perto e não encontrando perigo passava a mão sobre a coroa e a tirava com calma. Olhava para os lados e saia andando pelo canto em direção a porta lateral, que ficava a menos de vinte metros dos fundos da sua loja, meio que apressado ele entrava pelos fundos da loja, abria a tampa do frezzer e metia lá dentro a coroa, numa temperatura amena até a chegada do próximo pedido.
Certamente a coroa ficaria em bom estado pelo menos dois dias, cada coroa recuperada poderia ser vendida até duas vezes.
E assim Eduardo levava seu negócio em frente e com razoável lucro, Dilma quando soube do acontecido ficou louca de raiva e Eduardo explicou!

- que mesmo seu pai já fazia esta trama, depois, qual o morto que viria reclamar. E os convidados para o enterro não levariam as flores, arranjos e coroas para suas casas, como nas festas que ela decorava.
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Eu penso que os dias estão melancólicos. Estamos rodeados de pessoas desagradáveis.