segunda-feira, 5 de janeiro de 2015

Amor suburbano - Primeira parte.

Amor suburbano



A festa foi perfeita, um casamento preparado com muito carinho e meses de espera. Artur acompanhara o namoro da prima Mara desde a faculdade, Lucas era um bom rapaz e a amava mais que tudo e já estavam juntos há cinco anos, me lembro de algumas brigas entre eles, naqueles dias Lucas não dormia e nem comia até ela voltar o namoro, parecia coisa de adolescente. Enfim, o casamento aconteceu e toda a família compareceu marcando a melhor festa dos últimos anos de Petrópolis, eu estava feliz por eles e ali na serra com toda a família reunida era muito bom. Só sentia a falta de meu pai que sempre foi à alegria em pessoa, brincando, caçoando e contando piadas na hora do almoço. Passei minha infância e
adolescência alternando da escola para a loja e no fim da tarde para casa. Ainda me lembro de que meu avô me dando dinheiro e me mandando lanchar na pastelaria ao lado. Muitos dos clientes ou pessoas que entram na loja hoje foram amigos do meu avô, o qual faleceu um ano depois da morte do meu pai e o tempo parece que voou, pois já se passaram dez anos. Desde então assumi os negócios, eu filho único, foi assim meio no tranco, recém-saído da faculdade de engenharia de Arquitetura de Petrópolis, iniciei minha caminhada no comércio e por vários momentos tive dúvidas se era aquilo mesmo que eu queria ou um escritório de arquitetura na zona sul. Minha mãe foi morar na serra com minha tia Lara parte dos meus primos vivem e trabalha na serra, minha mãe diz que a qualidade de vida é melhor, o ar é mais puro e a tranquilidade dá inveja ao baixo Rio e me ligam pelo menos uma vez ao dia. Já tive várias namoradas, mas nenhuma delas me empolgou o bastante para pensar em casamento e o pior sou muito crítico por algumas vezes desisti de uma relação mesmo antes dela começar. No geral conheço bem as mulheres, tem minhas tias, primas e na loja são duas que já trabalham comigo à quase sete anos. Nunca me apaixonei perdidamente por alguém, mas acredito que nós temos uma alma gêmea escondida por aí a descobrir.
Esta semana como de costume fui almoçar no restaurante que frequento sempre, fica as uns quinze minutos da loja, uma comida boa e frequentado por pessoas que trabalham nos escritórios e clínicas da região de Botafogo. Eu estava no fim
da refeição, quando surgiram no hall três pessoas, um rapaz aparentando trinta anos e duas moças, uma morena de cabelos encaracolados de estatura pequena e a outra uma loira de pele branca vestia um jeans apertado e uma blusa branca de mangas compridas, trazia uma bolsa pequena de couro e sandálias, combinando num marrom claro. Sentaram do lado oposto a minha mesa que estava perto das janelas, onde eu poderia observar todo o movimento do estacionamento e o hall de entrada do restaurante. Havia uma distância entre nossas mesas, o rapaz ficou lado a lado com a morena de pequena estatura que ficou frente para a loira. Escolheram os pratos e sucos, conversavam alegremente, a morena era todo sorriso ao lado do rapaz e a loira falava pouco. Sem perceber, já estava naquela mesa quase uma hora, por dez minutos fiquei a observar, parecia que eu estava sozinho dentro do salão, por momentos não ouvi vozes, nem tilintar dos pratos e talheres. Eu poderia ler seus lábios e fixar nos seus olhos que olhava ao redor sem fitar num ponto fixo, ela passava os olhos por mim sem me ver e eu a deleitar dos seus olhares roubados. Decidi ir embora, pedi a conta ao Zacarias o garçom que sempre me servia, já estava passando da hora do meu almoço. Levantei e fui em direção à mesa dos três, passei olhando disfarçadamente, ela me olhou discretamente, fui demoradamente para o carro e parecia que meu corpo não queria sair daquele lugar.