sexta-feira, 21 de outubro de 2016

Sonho com Juan Gelman


Sonho com Juan Gelman



A rua era sinistra, escura de pouca luz, não passava de um beco. De metros em metros uma mulher encostada em uma escada diante de uma porta de um tiliguito (bar) barato com odor de perfume forte e de grossos cassacos de pele.
Passei apressado, já era tarde e o bar o qual havia me indicado não tardaria a fechar, era um ponto de encontro de velhos artistas, jornalistas e boêmios da velha Buenos Aires. No meu caminhar ia montando um script do que falar e perguntar ao encontrá-lo, talvez um: - boa noite! Ou - posso me sentar? E se ele me respondesse um não, e se estivesse acompanhado de uma mulher que sorria já levada pelas duas garrafas de vinho vazias sobre a mesa. Podia também ter mais duas companhias bêbadas e todos em altas gargalhadas, às vezes Vinícius falava e Neruda sussurrava certamente não me atenderia ou sim, me diria puxa uma cadeira e senta, fala o que tem que falar, cante o que tem pra mostrar, e eu só estaria ali pra perguntar.
Passei por bêbados que cantarolavam tangos de Gardel e outro grupo explanavam discursos febris sobre os governantes e os mandava a merda, e também os militares inúteis nas suas casas matas. E quando fiquei de encontro com a pequena praça pude ver do outro lado o restaurante com suas luzes baixas e fui chegando lentamente, entrei no hall e o maitre veio me receber e eu disse que uma pessoa me espera, o homem me indicou a mesa de fundo, então pude ver uma pessoa na penumbra rodeada pela fumaça e uma taça de vinho.
Chegando perto da mesa ele me olhou com um sorriso fechado por trás do seu vasto bigode me indicando a cadeira para sentar, minhas mãos frias e tremulas tocou a dele e em seguida pegou a caneta e voltou a escrever sobre o guardanapo e falou baixinho que eu aguardasse, pois estava terminando um poema.
De repente abro os olhos levados pela claridade do nascer da manhã que ultrapassava a cortina do meu pequeno quarto, e caí na real que foi um sonho tudo aquilo que vivi em algumas horas ou numa fração de segundo. Mas uma coisa ainda me lembrava, da última frase do poema que dizia “la página que no escribiré recuerda mi muerte”.

sábado, 1 de outubro de 2016

Dura Lembrança





O espinho da rosa vermelha

Espeta a palma da mão

Quando se colhe suas pétalas

E misturam ao sangue + que positivo

Ardente do meu corpo

Acúmulos de jornadas

Constantes dos banquetes

Que passamos noites adentro

Do nosso aposento que

Chamamos de ninho

Como nossos beijos

Lábios vermelhos de paixão

Tanto o espinho como a rosa

Símbolo do amor e do ódio

Que vive entre nós

E o tempo este que gira

E converte partes mortas

Em cinzas do passado

E choram lágrimas escuras

E faz lembrança um presente

Que um dia foi um rosa