Nos anos 70, alguns de nós fomos de criança a adolescência, não sabiam e nem entendiam o porquê daqueles jipes e caminhões verdes do exército que passavam pelos bairros todos os dias por várias vezes.
Às vezes eles vinham com aquele rabecão (carro veraneo de cores branca e preta utilizadas pela polícia civil da época). Nós éramos alertados pelos pais para não ficarmos nas esquinas parados a conversar, melhor que ficássemos no portão das casas. Na escola havia uma professora dona Regina que gostava de teatro ela contava para pequenos grupos que os militares tinham medo das pessoas inteligentes, por isso sempre alguém, amigos dela eram levadas presas para dar depoimentos sobre a profissão e ameaçados para não falar mal dos militares.
Certo dia eu e João entramos no bar do Tião na beira do campo do bairro e como lá havia várias mesas de sinuca daquelas grandes, nós ficávamos do lado de fora olhando, era proibida a entrada de menores nos bares. Mas a gente ia de fininho e sentávamos nos bancos do canto para assistir as partidas e de vez em quando o Tião tocava a gente de lá, dizendo:
- Vocês tão querendo me complicar, eles fecham o meu estabelecimento.
Mas a gente voltava quando o balcão estava cheio entrando de fininho. Um dia estava no fundo e chegou o caminhão verde do exército, desceram mais de uma dúzia de homens, ficaram distribuídos, alguns na porta outros dentro no corredor do balcão. Eu e o João ficamos no canto tremendo de medo, um dos homens veio pedindo documentos de todas as pessoas que estavam dentro do bar, outro veio até nós e disse que saíssemos o mais rápido, quando passamos pelo corredor do balcão vários soldados estavam em forma de fila formando um corredor e cada um deu um tapão em nossa cabeça e diziam alto:
- Não corram senão leva um coque de cima pra baixo.
Quando chegamos perto da porta, começamos a correr e sem olhar para trás, subi a minha rua em disparada, foi então que vi o João também correndo na direção do meu portão que ficava longe da rua dele. Estávamos tremendo e com os olhos cheios d’água de medo e nem pensar em falar do acontecido em casa, senão seria castigo no ato.
- Quando tomamos tento do que era a ditadura e suas masmorras, já estávamos no fim dos anos 70.
10/05/2008.
Um comentário:
te estoy visitando por nuestro amigo Emilio Salamanca. Muy interesante tu relato. Aunque lo lei varias veces para entenderlo. En el 70, yo apenas estaba en la adolescencia. Debe ser dificil vivir lo que experimentaron uds. en esa epoca. Con afecto. Judith
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