Renato foi passar um fim de semana prolongado na fazenda do pai que no feriadão esperava-se filho, filha e cunhados, cunhadas, sobrinhos e netos. A fazenda ficava no interior, sexta-feira à noite o pessoal começava a chegar aos poucos, vindo do Rio, SP, Minas e vinha-se com todas as tralhas, como colchões e roupas de cama para os filhos, visto que, não havia cama e quartos para todos. D. Lola já deixava uma panela com a famosa sopa de fim de noite e uma mesa regada a bolos, café e sucos para as crianças.
Na primeira noite foi uma zorra, as crianças foram colocadas em um quarto com os colchões espalhados pelo chão, à sala ficou para os homens e em dois quartos foram divididas as mulheres.
Todos demoraram a dormir muitas conversas e assuntos para colocar em dia, alguns não se viam a mais de seis meses.
Pela manhã seu Pedro e D.Lara foram os primeiros a acordar e foram seguidos pelas crianças, aos poucos todos foram levantando devagar. Após o café o pessoal foi se espalhando pelo curral, estábulo, açude e pomar. O avô colocou as crianças sobre a carroça e foram passear pela rua que dava na fazenda.
Hora do almoço outro alvoroço, pratos diferenciados para as crianças e por que não para os adultos também. Terminado o almoço as mulheres fizeram um mutirão para lavar as louças e em 30 minutos tudo estava no lugar e limpo. Os pais já pensavam como divertir as crianças pela noite, tinham trazido cd de filmes, televisões e aparelhos de vídeo game. O avô gostava de contar histórias do passado e fatos acontecidos na fazenda, outros novos investimentos como a plantação de mamonas para o bio-diesel um projeto da prefeitura local.
E chegou a noite o jantar estava sendo preparado e de repente; - a luz apagou!
Desespero geral das crianças e dos adultos a procura de velas e lanternas o avô tentou acalmar a todos dizendo que seria uma falta passageira, certamente era a companhia fazendo manutenção já que não estava ameaçando chuva. O tempo foi passando e após 50 minutos resolveram jantar a luz de velas. Passado o jantar continuou a falta de energia, então, entraria o plano B para divertir as crianças;
- mas com que? - tudo o que havia eram aparelhos eletrônicos, não tinha jogo de dama, jogo da velha ou bingo.
Então começaram as reclamações, noras emburradas, netos e sobrinhos achando diferente aquela situação. Um cunhado falando em ir embora e seu Pedro chamando alguns de urbanos.
O fim de semana estava no primeiro dia e já em emissão de acabar e duas horas depois a energia não voltara.
O avô tentava acalmar a situação explicando que sempre acontecia a queda de energia.
A avó já estava ficando triste ao ouvir comentários de alguns que demonstravam arrependidos de terem vindo.
Renato o filho mais velho tentou e reuniu o pessoal adulto na sala, tentou explanar um pouco a situação da falta de luz, como ali mesmo na fazenda a energia só havia chegado a dez anos e que antes só tinha o velho gerador.
Foi aí que o filho de Renato de sete anos falou; - então liga o gerador!
O senhor Pedro explicou que o gerador estava na garagem e que não ligavam o motor a mais de dois anos. Renato propôs que os homens se reunissem para tentar fazer o gerador funcionar. As crianças adoraram a idéia, as mulheres se animaram, a avó explicou que a falta de luz não era problema e que o fogão a lenha tinha serpentina e não faltaria água quente para o banho e propôs preparar massas para bolo e pizza.
Os grupos foram reunidos, os homens para a garagem, o grupo das crianças que em fila indiana foram fazer um passeio pelas trilhas da fazenda com lanternas na mão e guiados pelo avô. O grupo das mulheres dividiu-se entre preparar massas e tomar banho, pois se você quer deixar uma mulher nervosa é a possibilidade de ela deitar sem banho.
O grupo mais preocupado era o do gerador, tinham a responsabilidade de fazer a coisa (energia) acontecer e salvar o fim de semana. As crianças voltaram do passeio e direto para a cozinha comer bolinhos de chuva com Nescal e em seguida foram para o quarto e se jogaram nos colchões espalhados pelo chão, os menores dormiram e os maiores ficaram falando da aventura na trilha escura, como sapos, rãs pulando no açude e morcegos voando baixo.
Exatamente às 23h40min uma luz fraquinha clareou a sala e a cozinha, o gerador estava funcionando. O grupo da garagem comemorou com gritos e palmas, todos com as mãos sujas, após o trabalho árduo sobre aquele gerador, entraram na casa, orgulhosos do trabalho executado. Passava das 3 h da manhã quando resolveram deixar as cervejas quentes, algumas doses de pingas da casa, lingüiças fritas e bolinhos de chuva.
Pela manhã todos estavam animados apesar do cansaço, resolveram executar tarefas até à hora do almoço como lavar a camionete, esticar a fiação que levava luz a lâmpada na entrada da fazenda, limpar o paiol, mesmo para as crianças foram passadas pequenas tarefas e para as mulheres a limpeza da casa.
- O que foi um incômodo do apagão gerou uma terapia do trabalho, diferente do stress do trabalho da cidade onde o cansaço não era mental, sim físico e este tinha um remédio, estirar-se no colchão a sombra da varanda fresca naquela tarde de domingo.
21/04/2009.
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