sábado, 21 de janeiro de 2017

O furto



A pequena cidade conhecia a alegria
De Maria Isabel menina prendada
Filha única do farmacêutico Jonas
Passou toda a adolescência esperando
Um amor, puro, verdadeiro e duradouro.
Uma grande festa para a sociedade local
Foi dada para comemorar seus dezoito anos
E nesta festa compareceram
Vários rapazes amigos de infância
E que sempre cortejaram a menina
Um dos amigos trouxe um primo o Aldo
Vindo da capital estudante de medicina
Chegou à cidade um dia antes da festa
Passaria três semanas de férias
Maria Isabel dançou com todos os amigos
E por último o novo amigo visitante
Em três minutos de dança conversaram
E um encontro na sorveteria da praça
Foi marcado para domingo à tarde
A espera foi longa por toda a manhã
O encontro tímido num sorriso
A conversa girou na curiosidade dos dois
Sobre a vida e os gostos de cada um
Ele falou um pouco mais que ela
Viver numa pequena cidade como aquela
Onde poucas coisas se passam despercebidas
A novidade agora era a filha do farmacêutico
Que estava de namoro com o rapaz da cidade
Com um futuro promissor de médico
Então veio o segundo dia e mais conversas
Por longas tardes na sorveteria ou no portão
E passeios de bicicletas e por fim o beijo
Que selou o namoro e aprovação da família
Com um jantar na casa da namorada
Onde questionaram a vida do estudante
Durante três semanas correu a maravilhas
E a saudade começou antecipadamente
A bater no coração de Maria Isabel
E assim Aldo partiu, acabaram as férias.
E trocas de cartas e telefonemas semanais
Promessa de visita no próximo feriado
O que não aconteceu e cessaram as cartas
E os telefonemas foram diminuindo
E Maria Isabel triste pelos cantos
Nas noites de insônias passava chorando
Preocupava a família pelos acontecimentos
Os dias passavam e a tristeza a abatia
Os amigos vinham na tentativa de animar
Mas nada afastava a depressão da menina
E numa manhã Maria Isabel chamou o pai
E pediu para que a acompanhasse à delegacia
Onde o delegado Matias amigo de seu pai
Passava o dia, semanas e meses a ler jornal.
O pai não entendeu nada sobre o pedido
Mas acompanhando a filha a passos largos
Entrando no escritório foram atendidos
Pelo delegado quando Maria Isabel anunciou
Que queria fazer uma denúncia
O policial mandou chamar o escrivão
E perguntada qual seria a denúncia
“Que roubaram o meu coração”.
E ela conhecia o culpado pelo furto
O pai e o amigo delegado assustado
Por segundos não sabiam que ação tomar
Trazidos a realidade pela voz da menina
Que insistia em fazer a denúncia
Foram minutos de debates sobre o tema
Para o delegado era uma denúncia descabida
Era melhor que esquecesse o rapaz de vez
Mas Maria Isabel insistia em registrar
“O roubo do seu coração”.
Assim foi feito e levado o caso ao juiz
Da cidade vizinha que marcou a audiência
No dia e hora lá estava Maria Isabel
O juiz após ler a denúncia, perguntou.
O que a menina esperava com aquilo
Ela disse que queria que ele viesse depor
Que passasse vergonha perante os todos
E que pedisse desculpa em público a ela
Que isto lhe servisse de lição por enganar
Uma pessoa de coração puro e sincero
O rapaz foi chamado para depoimento
Com ele veio os pais e um advogado
O caso se arrastou por quase seis meses
Tomou proporções extras municipais
Apareceram alguns jornalistas na cidade
Maria Isabel deu algumas entrevistas
E então foi marcado o julgamento
E depois de duas horas de debate
O resultado foi lido pelo juiz da cidade
Aldo foi condenado a fazer uma nota
Onde pedia desculpas em público
E publicada em todos os jornais da região
E pessoalmente teria que ir casa da família
E pediria desculpas a toda a família
O caso ficou conhecido como: O furto do coração.

Um comentário:

Enide Santos disse...

Parabéns amigo pelo belíssimo texto!! e agradeço pela leitura.

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